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Doenças Agudas

As doenças periodontais se caracterizam por ser de caráter crônico, ou seja, de longa duração e baixa intensidade de virulência. Porém, existe um grupo de doenças que se caracterizam por apresentar curso breve, rápida instalação e normalmente acompanhadas de dor. Estas são denominadas de agudas e apresentam os sinais clássicos da inflamação:


  • tumor;

  • rubor;

  • calor;

  • dor.


Nestas doenças os pacientes são acometidos de desconforto e dor repentinos, podendo ainda apresentar manifestações de ordem sistêmicas como febre, enfartamento ganglionar, entre outras.


As doenças agudas são:


  • GUNA – Gengivite Ulcerativa Necrosante Aguda;

  • GEHA – Gengivo Estomatite Herpética Aguda;

  • Abscesso Gengival;

  • Abscesso Periodontal, e

  • Periocoronarite


Comentário: antes de descrevermos as doenças agudas, devemos realçar que no tratamento das doenças agudas devemos sempre DEBELAR A FASE AGUDA para depois darmos continuidade ao tratamento e solução do caso.



GUNA – Gengivite Ulcerativa Necrosante Aguda


Antigamente denomina de boca de trincheira, por ter sido detectada pela primeira vez em soldados entrincheirados durante a primeira guerra mundial, possui outras sinonímias: gengivite de Vincent, gengivite pseudomembranosa, gengivite fétida, etc.


Os pacientes acometidos desta doença podem apresentar dor, sialorréia, sangramento espontâneo, odor fétido, pseudomembrana pela necrose do epitélio gengival, eritema linear abaixo da pseudomembrana, necrose dos ápices das papilas, com inversão de anatomia, ulceração da gengiva marginal e papilar, edema, gosto metálico, entre outros.


A GUNA é uma associação fuso – espiralar (P. intermedia: 8 a 15% / P. negreski / espiroqueta de tamanho intermediário / B.fusiformes), restrita à gengiva, raramente atingindo a mucosa. Tem um curso não definido e não demonstra contágio. Não confere imunidade e cede com antibióticos.


Costuma atingir adultos jovens: 17 / 30 anos, portadores de higiene oral precária e com gengivite marginal crônica pré-existente. Tabagismo e estresse favorecem o aparecimento da doença e são considerados desencadeadores.


Em casos onde o paciente consegue melhorar o padrão de higiene, onde diminui o nível de stress, a GUNA pode entrar num processo subclínico e assim permanecer por tempo indeterminado, ou recidivar. Porém em estágio sub clínico, a doença permanece ativa, com menor grau de virulência e continua o processo de destruição tecidual.


O tratamento da GUNA, como já citado anteriormente e com indicação para todas as doenças agudas, é inicialmente a debelar a fase aguda. Neste caso, bochechos com substâncias oxidantes (água oxigenada a 10%, perborato de sódio), misturada com água quente de forma que a mistura fique a uma temperatura morna suportável, escovação suave, mas constante, evitar álcool e fumo e a dieta deverá ser nutritiva e pastosa. Compressas de água oxigenada a 10% podem ser feitas diretamente na gengiva. Se houver comprometimento sistêmico, podemos utilizar analgésicos, anti-inflamatórios e antibióticos.


Após o desaparecimento da sintomatologia dolorosa e remição dos outros sinais e sintomas, realizamos procedimentos de raspagem. Se necessário, após a raspagem fazemos a plastia para correção anatômica.


GEHA - Gengivoestomatite herpética aguda


Diferentemente de todas as demais doenças periodontais, que tem seu agente etiológico, bactérias, a GEHA é uma doença decorrente do vírus Herpes Simplex, sendo contagiosa e atinge crianças com idade entre 4 a 8 anos. Apresenta curso definido (doença auto-limitante) que pode variar de 7 a 21 dias.


Caracteriza-se pelo aparecimento de vesículas em toda cavidade bucal, podendo atingir lábios e garganta. As vesículas apresentam as bordas avermelhadas elevadas, com depressão central possuindo uma membrana branca amarelo-acinzentada, que é resultante da necrose epitelial. Extremamente desconfortável e dolorosa, a criança torna-se inapetente, com dificuldade de fala e deglutição. As gengivas apresentam-se edemaciadas e podem sangrar. A língua pode ficar com aspecto saburroso. Comumente os pacientes encontram-se febris, com gânglios enfartados e doloridos.


O tratamento destes casos é paliativo. Recomenda-se emborcação com violeta de genciana 1:1000, dieta líquida e nutritiva, vitaminas B e C. Aconselha-se aplicação de anestésico tópico sobre as vesículas para aliviar a dor e facilitar a mastigação e deglutição.


Após este surto, o vírus entra em processo de latência e dormência nos gânglios e células epiteliais.


Depois, na fase adulta, em casos de queda de imunidade, exposição ao sol, ou uso de medicamentos, poderá haver o reaparecimento do vírus na forma de herpes labial. Cerca de 90% das pessoas possuem o vírus, porém apenas uma pequena parcela apresenta o quadro de herpes labial.


Aconselhamos isolar utensílios domésticos pois esta doença é transmissível.


Língua saburrosa


Vesículas com bordas elevadas avermelhadas e depressão central amarelo-acinzentado (necrose epitelial)




Herpes Labial (manifestação secundária)


ABSCESSO GENGIVAL


Trata – se de uma coleção purulenta, localizada na gengiva, causada por invasão de corpo estranho no espaço biológico. Carapaças de crustáceos, sementes, casca de pipoca, palitos, cimentos e bandas ortodônticas são os causadores mais comuns.


O tratamento se faz com a remoção do corpo estranho, do tecido de granulação, bochechos com água morna, analgésicos e raspagem não demasiadamente invasiva. A simples remoção torna-se por si só o tratamento propriamente dito.



Localizado em margem gengival ou papilar, devido a infiltração de corpos estranhos


ABSCESSO PERIODONTAL


Sempre associado à doença periodontal. É uma coleção purulenta localizada no periodonto de sustentação, decorrente de uma inflamação aguda neste local. Ocorre em casos de bolsas muito sinuosas com dificuldade de drenagem de seu conteúdo, casos de raspagem onde permanecem resíduos contaminados na porção apical da bolsa, ou cicatrização e aderência da entrada da bolsa.


A dor é intensa, difusa, ocorre destruição óssea acentuada na porção média da raiz, pode ocorrer mobilidade e pericementite.


Neste caso, deve-se tentar drenar o abscesso pela entrada da bolsa com a própria sonda milimetrada ou cureta. Caso não seja possível, a drenagem poderá ser realizada pelo ponto de flutuação do abscesso, com incisão simples. A cobertura com antibiótico e analgésico se faz obrigatória.


Após esta remissão da fase aguda, procedimentos de raspagem meticulosa ou intervenção cirúrgica deverão ser realizados.


Bochechos com água morna salina ajudam a drenagem e cronificação deste abscesso, devendo ser utilizada mesmo após a drenagem.


Trauma agudo ou primário no periodonto, trincas radiculares, fraturas, trepanações, podem causar abscessos no periodonto. Entretanto estes abscessos não são considerados como periodontais por não haver presença de doença periodontal e bolsas profundas. Nestes casos, são denominados de abscessos agudos no periodonto.


Após drenagem


PERICORONARITE


Ocorre na região de terceiros molares inferiores, durante ou após a sua erupção. A dificuldade de higienização, ou a gengivite por erupção causam edema da gengiva na região. Com isto, o paciente passa a macerar a gengiva pela mastigação. Esta situação associada ao acúmulo de placa, desencadeia o desenvolvimento da pericoronarite.


Esta doença apresenta sintomatologia dolorosa, com reflexos nos ouvidos e garganta. O paciente pode apresentar trismo, não conseguindo abrir ou fechar a boca. Recomenda-se que o paciente procure higienizar o melhor que lhe for possível a região afetada, e realize bochechos com substâncias oxidantes e água morna. Uma ligeira profilaxia da região é recomendada. Entretanto, não deve ser aprofundada por estar na fase aguda. Antibiótico e relaxante muscular poderão ser utilizados nos casos mais complicados. Após o desaparecimento dos sintomas, realizamos raspagem da região, e a remoção do capuz pericoronário (ulcetomia). Em casos onde não haverá espaço para a total erupção do terceiro molar, a exodontia é recomendada. Em casos mais severos, poderá surgir abscesso na região. São denominados de abscessos pericoronários.



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Dr. José Sani Neto

Cirurgião-Dentista, formado em 1982 pela Faculdade de Odontologia da Universidade Federal de Santa Maria - UFSM/RS.

Especialista em Periodontia e Mestre em Fisiologia de Órgãos e Sistemas. Professor Titular da Disciplina de Periodontia da Faculdade de Odontologia da Universidade Metropolitana de Santos - FOUNIMES.

Coordenador dos Cursos de Especialização, Atualização e de Iniciação em Cirurgia Periodontal da FOUNIMES.

Professor Convidado do Curso de Especialização em Implantodontia - SENAC TIRADENTES/SP.

Professor Convidado do Curso de Especialização em Implantodontia - FOUNIMES.

Autor do Capítulo Tratamento Odontológico na Gravidez em "A grávida: suas Indagações e as Dúvidas do Obstetra", ed. Atheneu,1999.

Autor do Manual de Periodontia, ed. Atheneu, 2000.

Colaborador no Atlas de Prótese sobre Implantes Cone Morse. 1a. ed. São Paulo: Livraria Editora Santos, 2009.

Co-autor do Atlas de Implantes Cone Morse - da Cirurgia à Prótese. Ed. Napoleão, 2011.

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